O processamento auditivo central refere-se ao processamento da informação auditiva no sistema nervoso central e à atividade neurobiológica em relação às habilidades de localização sonora, discriminação auditiva, reconhecimento de padrão temporal, ordenação temporal e fechamento auditivo.
As habilidades auditivas são governadas pelos centros auditivos do tronco cerebral e do cérebro e podem ser agrupadas em cinco áreas gerais: atenção, discriminação, associação, integração e organização. O desenvolvimento dessas habilidades acontece desde a infância, pois assim que nascemos nosso ouvido está preparado para captar sons do ambiente. Ao longo do tempo, o cérebro irá se desenvolver, amadurecer e aprender a escutar todos os sons, reconhecê-los, diferenciá-los de outros, memorizá-los e dar significados. Desse modo, o processamento auditivo é o conjunto das habilidades específicas que uma pessoa precisa para interpretar o que ouve.
Ao longo da primeira infância, as próprias experiências auditivas, associadas às experiências dos outros sentidos, como a visão, o tato, o paladar e o olfato, estimulam o cérebro a perceber mais e mais detalhes dos sons que nos cercam e dar significado a cada um deles. Se o cérebro desenvolver um processamento auditivo eficiente e rápido, ele será capaz de dar o significado correto às experiências vividas e associará os estímulos auditivos aos percebidos pelos outros sentidos.
Mas o que acontece quando este processo não ocorre da maneira esperada?
De acordo com dados da American Speech-Language-Hearing Association (ASHA), cerca de 20% das crianças têm problemas no desenvolvimento do processamento auditivo central e poderão se tornar adultos com Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC), com potenciais dificuldades em: manter a atenção em aulas e palestras; localizar de onde vem o som; compreender a fala em ambientes ruidosos; aprender um novo idioma; cantar; manter a fluência e organização da fala; adequar o tom de voz à sua intenção comunicativa; compreender piadas, fala ambígua ou com duplo sentido; selecionar um estímulo para focar a atenção ou ainda dificuldade em seguir instruções e comandos auditivos complexos.
Quando avaliar o processamento auditivo central?
No desenvolvimento da criança, o processamento auditivo será muito importante para que ela consiga aprender os nomes dos objetos, a falar corretamente todos os sons da nossa língua, expressar-se de modo organizado, compreender as situações que a cercam, aprender a ler e a escrever ou compreender uma história. A lista de manifestações é complexa e pode incluir situações de comportamento, socioemocionais, comunicativas e educacionais, que podem ser resultados de alterações no processamento auditivo central ou coexistir com outras patologias, como TDAH ou dislexia, por exemplo.
As principais queixas que chamam a atenção e podem indicar a necessidade de uma avaliação do processamento auditivo central são:
- tempo de atenção muito curto
- agitação excessiva
- ansiedade ou estresse quando solicitado a permanecer atento
- dificuldade para compreender a fala em ambientes ruidosos
- dificuldades de compreensão ou expressão
- distração excessiva
- dificuldade para seguir ordens
- parecer prestar atenção a todos os sons do ambiente ao mesmo tempo
- dificuldade em lembrar o que foi dito
- confundir-se ao contar um fato ou história
- baixo rendimento escolar
- alteração de alguns sons da fala
- pouca habilidade de leitura ou fonética
- pouca habilidade ortográfica
- desorganização
- relacionamento frágil com seus colegas
- baixa autoestima
Quando uma criança, ou mesmo um adulto apresenta queixas como essas, é importante que seja encaminhado para um fonoaudiólogo realizar uma avaliação do processamento auditivo central. Ao descobrir as habilidades comprometidas, é possível ajudar a desenvolvê-las ou a compensar as dificuldades que causam. O fonoaudiólogo irá preparar um plano terapêutico e um treino auditivo personalizado, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Como funciona a avaliação do processamento auditivo central?
As práticas recomendadas para diagnóstico e intervenção do TPAC são dinâmicas e passam por revisões e aprimoramento à medida que novas pesquisas surgem. As recomendações, em geral, são desenvolvidas por grupos de consenso da Academia Americana de Audiologia (AAA) e da ASHA, e no Brasil, pela Academia Brasileira de Audiologia (ABA).
A avaliação do processamento auditivo central, pode começar por uma triagem simples realizada no consultório, composta por:
- teste de localização da fonte sonora em cinco direções
- teste de memória sequencial
- verbal: com a utilização de sequências silábicas
- não verbal: com a utilização de instrumentos musicais
Se o paciente falha na triagem, ele pode ser encaminhado para uma avaliação do processamento auditivo central em cabine acústica, onde serão aplicados testes específicos para:
- identificação da direção da fonte sonora
- discriminação de sons em sequência
- discriminação de padrões de sons
- atenção seletiva em escuta dicótica
- atenção seletiva em escuta monótica
O objetivo dos testes é compreender como o indivíduo processa as informações e avaliar a função integrativa do sistema nervoso.
A avaliação é realizada por um fonoaudiólogo, utilizando equipamentos e materiais específicos, podendo acontecer em uma ou mais sessões. O exame é feito dentro de uma cabine acústica e os testes são selecionados de acordo com a faixa etária e a presença ou não de alterações auditivas. Antes de iniciar, uma boa entrevista com o paciente ou seus responsáveis trará informações importantes sobre as queixas apresentadas que guiarão o profissional na avaliação do paciente. Ao final do processo, um relatório deve detalhar os testes realizados, bem como o desempenho obtido pelo paciente.
Em 2016, durante o 31o EIA (Encontro Internacional de Audiologia), profissionais reunidos no Fórum votaram pela definição de um protocolo mínimo de avaliação do processamento auditivo central, tendo como pré-requisito a avaliação audiológica básica que inclui audiometria e imitanciometria, para que o profissional tenha conhecimento sobre as condições da audição periférica do paciente.
A recomendação proposta pelo Fórum é que a alteração em apenas um mecanismo pode indicar TPAC, desde que se observem as condições de aplicação do teste quanto à atenção do paciente, compatibilidade da alteração com a história apresentada no momento da anamnese, além de teste/reteste em casos de alterações muito pequenas.
Nos casos em que seja comprovado o TPAC, pensando na reabilitação do paciente, o profissional poderá solicitar:
- Modificações ambientais que tenham como objetivo promover uma melhor escuta
- Localização preferencial no ambiente
- Uso de amplificação sonora durante o treinamento e/ou em situação de aprendizagem
- Treinamento das habilidades auditivas disfuncionais
- Desenvolvimento das habilidades cognitivas de atenção e memória
- Desenvolvimento das habilidades linguísticas específicas
Programa online de triagem do PAC
A ProBrain, empresa responsável pelo Afinando o Cérebro, lançou neste ano o AudBility, um programa online de triagem das habilidades auditivas com um conjunto de tarefas para investigar as habilidades auditivas. Validado cientificamente, o AudBility é uma possibilidade inovadora para o fonoaudiólogo que trabalha com PAC.
O programa é dividido por faixas etárias, com avaliações específicas para grupos de:
- 6 a 8 anos
- 9 a 12 anos
- Maiores de 13 anos
O AudBility avalia as habilidades auditivas de localização sonora, escuta dicótica competitiva (dígitos e dissílabos), integração binaural, figura-fundo, fechamento auditivo, resolução e ordenação temporal, além de ser composto por um questionário de autopercepção direcionado ao paciente, pais e professores.
É importante ressaltar que por ser tratar de um instrumento de triagem, o AudBility não substitui a avaliação formal do PAC, mas oferece ao fonoaudiólogo a possibilidade de:
- Mapear as habilidades auditivas em seus pacientes
- Verificar a relação entre a manifestação e a habilidade auditiva
- Indicar a necessidade de avaliação do PAC
- Direcionar a terapia
- Fornecer comparativos de evolução para paciente e família
- Indicar atividades de estimulação para cada indivíduo
Dependendo do desempenho que o paciente apresentar durante a triagem do AudBility, o relatório produzido pelo programa indicará a necessidade de encaminhá-lo para uma avaliação do processamento auditivo central, realizada pelo audiologista em cabine acústica. Paralelamente, ele poderá ser submetido, pelo próprio profissional, a um programa de reabilitação com a possibilidade de fazer retestes periódicos, e o AudBility poderá ser utilizado também para acompanhar sua evolução em terapia
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