A alfabetização é um dos marcos do desenvolvimento infantil. Até parece mágica, quando de uma hora para outra os pequenos começam agrupar letras para transformá-las em palavras. Mas na verdade, aprender a ler e escrever é mais complexo do que parece e vai muito além de conhecer e decodificar as letras.
Já nos primeiros anos de vida, antes mesmo de dar início ao processo de alfabetização, as crianças começam a desenvolver as habilidades auditivas que serão essenciais para a aquisição de linguagem e posteriormente para aprender a ler e escrever. São as habilidades auditivas que nos permitem prestar atenção, discriminar, organizar, associar, integrar e armazenar o que ouvimos, para então compreendermos o significado das mensagens corretamente e ter uma comunicação eficiente.
A aprendizagem da leitura e da escrita, depende da interligação de diferentes áreas cerebrais, que irão processar informações auditivas e visuais para se conectar às áreas da linguagem e de memórias sensoriais. Para a aprendizagem da leitura e da escrita é necessário, primeiramente, compreender os sons das palavras e analisar as mínimas partes que as constituem (fonemas) para, em seguida, associá-los às letras. Deste modo, é possível perceber que a informação auditiva é fundamental para esse processo de aprendizagem.
Diversos fatores podem influenciar o processo de aprendizagem, incluindo:
. Atraso na aquisição de linguagem
. Baixa assiduidade
. Comprometimento sensorial
. Dificuldades socioemocionais
. Fatores socioeconômicos
. Histórico familiar de dificuldades de aprendizagem
. Alterações auditivas
. Alterações no processamento auditivo central
Um estudo com 95 crianças que apresentavam problemas de aprendizagem mostrou que 93 delas tinham transtorno do processamento auditivo central (TPAC). O TPAC afeta as vias centrais da audição, ou seja, as áreas do cérebro relacionadas às habilidades auditivas. Em boa parte dos casos, o sistema auditivo periférico encontra-se totalmente preservado. A principal consequência está na dificuldade de processamento das informações captadas pelas vias auditivas. A pessoa é capaz de ouvir, mas demonstra dificuldade em interpretar a mensagem recebida.
Crianças com alteração no processamento auditivo central têm mais dificuldade em compreender a fala quando há sons competitivos ao redor, costumam se distrair facilmente, apresentam atenção reduzida e desempenho escolar insatisfatório. Quando avaliadas do ponto de vista auditivo, apresentam limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade. No entanto, demonstram alteração na atenção concentrada, cansam-se com facilidade, necessitam que as informações auditivas sejam repetidas com frequência, têm baixa memória e dificuldade em aprender a relação entre o som e as letras que os representam.
É importante que pais e professores estejam atentos às dificuldades, para intervir o quanto antes, considerando que em alguns casos as dificuldades podem estar ligadas a transtornos de aprendizagem, como dislexia e discalculia. Além disso, a detecção precoce permite a correta orientação e intervenção capazes de minimizar as dificuldades comunicativas e o desempenho tanto no âmbito escolar como nas relações sociais.
Assim, além de investigar a audição de crianças com dificuldade no processo de aprendizagem é essencial avaliar como estão suas habilidades auditivas. Deste modo, é possível oferecer o melhor acompanhamento para que crianças que enfrentam problemas no processo de alfabetização possam superá-los e seguir adiante em seu desenvolvimento.