É provável que você já tenha ouvido falar sobre dislexia, considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e fluente da palavra escrita, na habilidade de decodificação e de soletração. Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas do indivíduo.
Os primeiros sinais da dislexia podem ser observados desde a fase pré-escolar, embora indique-se que o diagnóstico seja realizado somente a partir dos 8 anos de idade. Na dislexia, a alteração acontece no processamento fonológico, gerando dificuldade para processar e manipular os sons. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), este é o transtorno de maior incidência nas salas de aula, atingindo entre 5% e 17% da população mundial. No Brasil, dados do Instituto ABCD, apontam que o transtorno acomete 4% da população, são mais de 8 milhões de brasileiros que desenvolvem essa condição.
As queixas podem variar, embora em geral estejam relacionadas a atrasos no desenvolvimento da fala, incluindo trocas, omissões e substituições de fonemas, dificuldades para nomear letras, números e cores, erros de leitura e escrita/ortografia, dificuldade para decodificar palavras e compreender textos, entre muitas outras manifestações que podem gerar dificuldades de aprendizagem até a vida adulta.
Em linhas gerais, as pessoas com dislexia têm maior dificuldade para relacionar de forma correta letras e sons, assim como formar, escrever palavras e lembrar-se da ortografia correta delas. A dislexia pode ser caracterizada de três formas:
Dislexia Visual: ocorre quando o indivíduo tem dificuldade em visualizar corretamente as palavras e memorizar o lado correto das letras e números. Apresenta trocas persistentes de letras que são visualmente semelhantes, como p/q/b/d ou m/n/ bem como f/t , s/z e a/o/e. As dificuldades relacionadas a discriminação visual são mais presentes neste tipo de dislexia.
Dislexia Auditiva: acontece quando a dificuldade está na percepção dos sons, na consciência fonológica (como a percepção de rima, por exemplo) e na discriminação de sons parecidos, gerando dificuldade na correspondência entre som e letra, como nas trocas entre t/d, f/v, p/b, s/z, q/g, x/j que representam sons semelhantes.
Dislexia Mista: como o próprio nome sugere, a dislexia mista engloba tanto a dificuldade visual como auditiva, ou seja, além de ter dificuldades ao visualizar as palavras que são apresentadas, a pessoa com esse tipo de dislexia também apresenta dificuldades em compreender ou interpretar adequadamente os sons da palavra que escuta.
Dislexia Auditiva, o que é isso?
Como dissemos acima, a dislexia auditiva afeta a capacidade de uma pessoa em processar informações auditivas, a dificuldade se concentra na percepção auditiva, portanto, nestes casos, não são comuns relatos de que as letras parecem “dançar no papel” ou trocas como p/q pontuadas pelo direcionamento da letra.
Assim, pessoas com dislexia auditiva podem ter dificuldade em distinguir entre sons semelhantes, como "b" e "p", ou “f" e "v" entre outros. É muito comum que as dislexias auditivas venham associadas ao Transtorno do Processamento Auditivo Central, sendo importante a avaliação e estimulação das habilidades auditivas para garantir que o indivíduo com dislexia tenha evolução no seu aprendizado escolar.
Sim, existe tratamento para a dislexia. Embora ainda existam muitos mitos em torno da dislexia, quanto mais precoce for a intervenção, melhores serão as chances de desenvolvimento da pessoa diagnosticada com dislexia desenvolver a leitura fluente, a escrita e compreensão leitora.
A avaliação e o tratamento da dislexia devem envolver uma equipe multidisciplinar.
Quando há uma alteração no processamento auditivo central, o treinamento auditivo é recomendado para a reabilitação das habilidades auditivas, com base nos princípios da neuroplasticidade, ou seja, na capacidade que o cérebro humano tem de se reprogramar. Deste modo, a terapia pode incluir exercícios para melhorar as habilidades do processamento auditivo que se encontram alteradas e resultar em melhora da discriminação auditiva, da compreensão e da memória auditiva.
A fase da alfabetização é um período de muita atenção para as crianças com dislexia auditiva, pois quanto antes as habilidades de consciência fonológica forem estimuladas melhores serão as condições para a criança ser capaz de aprender a ler e escrever.
E o processamento auditivo central?
A dislexia é uma condição genética que pode ou não estar associada a alterações no processamento auditivo central. No entanto, sabemos que, quando há alguma habilidade auditiva central deficitária devemos o mais rápido possível estimulá-la para contribuir na evolução da pessoa com dislexia, minimizando suas dificuldades para potencializar o desenvolvimento da leitura e da escrita.
Assim, quando uma criança recebe o diagnóstico de dislexia, é importante investigar também o funcionamento do seu processamento auditivo central por meio de uma avaliação específica, pois deste modo será possível oferecer a ela uma terapia ainda mais completa, baseada em suas necessidades.
Confira os principais sinais que podem estar relacionados à dislexia.
Seu filho recebeu o diagnóstico de dislexia auditiva, e agora?
Receber o diagnóstico de dislexia é um momento desafiador para a família. No entanto, a família é extremamente importante para a criança com dislexia, tanto para apoiá-la em seu desenvolvimento ajudando na busca de estratégias, como para o fortalecimento da autoestima e estimulação da autonomia.
Separamos algumas dicas, para que você possa apoiar seu filho e ajudá-lo a se desenvolver melhor:
Seja claro ao dar orientações, utilize exemplos e certifique-se que foi compreendido pela criança;
Acolha os erros do seu filho, mostrando a ele que também são uma forma de aprendizado;
Valorize os acertos e empenho do seu filho, o suporte familiar é essencial para que a criança enfrente e possa superar as barreiras que encontrará diariamente;
Ofereça à criança a oportunidade de realizar atividades que gosta, além da escola;
Leia para o seu filho;
Faça jogos que brinquem com os sons e estrutura das palavras, como rimas;
Mantenha a comunicação constante com a escola e professores, garantindo assim que a criança com dislexia tenha o suporte necessário para se desenvolver e aprender;
Estude sobre a dislexia, pois quanto mais informações tiver, melhor será o apoio que poderá oferecer a ele. No Instituto ABCD, por exemplo, você encontrará uma série de artigos que vão lhe ajudar a lidar com a dislexia do seu filho.
Embora a dislexia auditiva represente uma condição desafiadora, é possível se adaptar e levar uma vida feliz e produtiva, pois à medida que as pessoas diagnosticadas com dislexia têm acesso ao tratamento, desenvolvem-se e adquirem as competências de leitura e escrita de uma forma diferente das demais crianças. Por isso, quanto antes procurar ajuda, melhor!
Olá, eu tenho 35 anos, acredito que tenho dislexia, mas nunca fiz nenhum tratamento ou recebi um diagnóstico médico. O que devo fazer, qual médico devo buscar?