O primeiro passo para aprender é ser capaz de perceber as informações do mundo e integrá-las a outras já existentes no nosso cérebro. Quanto mais ricas são as experiências vividas e a capacidade do indivíduo em perceber os detalhes de cada uma delas, melhor é a aprendizagem.
Os nossos órgãos sensoriais são os responsáveis por capturar os estímulos do ambiente que serão processados e interpretados no nosso cérebro, segundo as experiências anteriores vividas e registradas.
Quando existem alterações na captação da estímulo ou no processamento das informações, a aprendizagem poderá ser comprometida.
A aprendizagem da leitura e da escrita, por exemplo, depende da interligação de diferentes áreas cerebrais, que irão processar informações auditivas e visuais para se conectar às áreas da linguagem e de memórias sensoriais. Para a aprendizagem da leitura e da escrita é necessário, primeiramente, compreender os sons das palavras e analisar as mínimas partes que as constituem (fonemas) para, em seguida, associá-los às letras. Deste modo, é possível perceber que a informação auditiva é fundamental para esse processo de aprendizagem.
Mas como o DPAC/TPAC podem influenciar o processo de aprendizagem?
As experiências auditivas têm papel importante na capacidade de comunicação interpessoal, favorecendo a compreensão das informações, a socialização e principalmente o aprendizado. O processamento auditivo central compreende mecanismos que formam as habilidades auditivas: localização sonora, discriminação auditiva, reconhecimento de padrões auditivos, aspectos temporais da audição; desempenho auditivo diante de sinais acústicos competitivos ou quando o sinal acústico é ruim. São estas habilidades que nos permitem compreender o mundo real, analisar as partes e o todo da informação que recebemos e direcionar nossa atenção aos estímulos sonoros que selecionamos, mesmo quando há competição sonora, como no ambiente escolar.
Alterações nas habilidades auditivas podem levar ao TPAC, refletindo dificuldades no processamento perceptivo da informação auditiva no sistema nervoso central, que afetam o desempenho em uma ou mais das habilidades, ocasionando falhas na compreensão integral da mensagem sonora recebida. Assim, pode ser mais difícil escutar em ambientes ruidosos, como na sala de aula, por exemplo. As dificuldades apresentadas podem estar associadas ou não a problemas de atenção e memória, principalmente quando a criança se encontra em idade escolar, levando em muitos casos ao insucesso no processo de aprendizado.
Os problemas de aprendizagem podem ser decorrentes de fatores externos à criança, como aqueles relacionados à proposta pedagógica da escola, baixa assiduidade e aspectos referentes à família. Essas dificuldades podem ser transitórias e tendem a ser superadas com ajustes na dinâmica escolar ou familiar. Já as causas relacionadas a transtornos de linguagem e aprendizagem ou que decorrem de patologias como déficits cognitivos, sensoriais ou ligados a quadros neurológicos, devem ser encaminhados para o tratamento específico e poderão se beneficiar com ações direcionadas por uma equipe multiprofissional.
Sabemos que no ambiente escolar, em que a informação auditiva, em conjunto com a informação visual, são estímulos predominantes para a transmissão de conceitos e conhecimentos, pode haver muita competição e degradação sonora na sala de aula, principalmente em função do ruído. Diante desse cenário, diversos estudos apontam que é importante considerar o processamento auditivo central dessa população.
Quais são as características das dificuldades de aprendizagem relacionadas ao TPAC?
As dificuldades apresentadas por uma criança com TPAC podem ser diversas, dependendo do grau de comprometimento e das áreas afetadas no cérebro. Os sinais de alerta envolvem dificuldades no processo de alfabetização, no desenvolvimento da fala, comprometendo a comunicação, dificuldade de compreensão do conteúdo apresentado pelo professor, em adquirir vocabulário específico de cada disciplina escolar, de organizar o conteúdo e elaborar textos e respostas de avaliações, entre outras. As trocas ou omissões de letras também podem sinalizar dificuldades relacionadas às habilidades do processamento auditivo central.
Quais são as principais queixas e sinais relacionados ao TPAC?
Uma série de fatores e comportamentos característicos podem ser observados em indivíduos que apresentam algum tipo de alteração no processamento auditivo central:
Agitação ou distração excessivas
Hiperatividade
Apatia
Baixo rendimento escolar
Dificuldades na alfabetização
Troca de sons na fala
Troca de letras na escrita: inverte letras parecidas (b, d, p, q) ou troca letras com sons parecidos (p/b, t/d, f/v, m/n)
Erros gramaticais
Esquecer o que ouviu ou leu
Dificuldade para compreender variadas entonações na comunicação como piadas e frases de duplo sentido
Dificuldade de escutar em ambiente ruidoso
Dificuldade em compreender ordens e regras
Confundir-se ao contar um fato ou história
Dificuldade em se expressar
Por que o diagnóstico precoce do TPAC é importante?
A detecção precoce, a correta orientação e a intervenção podem minimizar as dificuldades comunicativas e o desempenho tanto no âmbito escolar como nas relações sociais.
Uma criança em fase de alfabetização que apresenta dificuldade em aprender a ler e escrever deve ser encaminhada ao oftalmologista, ao otorrinolaringologista e ao fonoaudiólogo para investigar as habilidades auditivas do processamento auditivo central e que são fundamentais para essa aprendizagem.
O diagnóstico precoce do TPAC, assim como das dificuldades de aprendizagem, permite orientação adequada aos pais, facilita a conduta dos professores no processo de aprendizagem, além de possibilitar o encaminhamento correto do aluno ao tratamento mais adequado.
Qual é o tratamento correto para TPAC?
Após o processo de avaliação, será possível compreender quais habilidades auditivas estão comprometidas. O fonoaudiólogo, profissional habilitado em avaliar e estimular o PAC, irá trabalhar com estratégias terapêuticas que envolvem o treinamento auditivo e as habilidades de linguagem que foram impactadas por essa alteração.
Uma estimulação adequada do processamento auditivo central envolve tarefas específicas e diversificadas que são apresentadas de modo frequente ao paciente e mediadas pelo profissional, visando o aprendizado e o desenvolvimento de estratégias para que o cérebro desenvolva cada uma das habilidades alteradas.
Que estratégias posso utilizar na minha prática clínica?
A estimulação das habilidades auditivas pode ser feita de diversas maneiras, por meio de treinamento auditivo com sons diversos e a partir do uso de jogos criados especificamente para esse objetivo. É importante que haja repetição das atividades, pois a repetição favorece o aumento do número de sinapses presentes nos circuitos neuronais envolvidos na habilidade a ser estimulada. Para potencializar o treino, especialistas sugerem que as estratégias utilizadas façam parte de um contexto compreendido pelo paciente.
Os jogos e atividades disponíveis na plataforma Afinando o Cérebro são fundamentados nos princípios da neuroplasticidade, ou seja, na capacidade que o cérebro tem de criar novas conexões. São mais de 120 opções para treinar o processamento auditivo, visual, memória, atenção e linguagem. Quer saber mais? Clique aqui para conhecer.